O quanto você gosta de dinossauros?
- Algoritmo Futurista
- 14 de jan.
- 3 min de leitura
Estou de volta.
Depois de um hiato de no mínimo 3 anos.
Mexer no passado, escavar memórias, relembrar pessoas e momentos é um paradoxo. Estamos vivendo quando estamos revivendo? ¹
Se as coisas do passado são imutáveis, é lógico afirmar que o "hoje" que nos faz "ressignificar" o que já foi, certo?
São as novas experiências que ressignificam o que passou? São elas a verdadeira força motriz que desperta as verdades e lições ocultas aprendidas nas discussões que perdemos um mês atrás ou até de uma cadeirada entre políticos (referência aos eventos dos debates políticos entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo de 2024)?
Quem somos hoje tem uma parte de todas as nossas versões anteriores? E quando temos um momento de "eureka!" sobre algum evento, esses momentos são, na verdade, o encontro das nossas versões (atual e antiga)? Se nada mudar, sem novas experiências contrastantes, somos incapazes de ter insights, viver lições e superar mal entendidos?
Se a resposta for sim para as perguntas anteriores, devemos nos conformar e agradecer imediatamente à imutabilidade do passado. Pois devido à ela, talvez somente por ela, conseguimos validar a existência do livre arbítrio.
Afinal, se as escolhas pudessem ser refeitas, não escolheríamos de fato. Viveríamos a mercê de uma existência sem consequências, pois nada impacta de forma permanente. E ao perceber desconfortos desencadeados por uma decisão, voltaríamos atrás. Sem o peso, a carga de escolher algo e lidar com os efeitos, viveríamos um passado corrigível e um presente líquido. Sem responsabilização, por natureza.
Enquanto a realidade que temos não nos permite viajar no tempo e corrigir erros, fazer diferente, mudar o trajeto. Temos aspectos da vida que desempenham o papel de resgatar ideias, conceitos e experiências que já foram. A moda volta, as novas músicas copiam o ritmo das antigas, os escândalos nas redes sociais são os mesmos que antes eram transmitidos apenas na TV. Mas se tudo se repete, nossas novas versões estão fadadas a sumirem e reaparecem num ciclo repetitivo? Somos sempre o ontem e o hoje em faces rearranjadas?
¹ Respondendo a primeira pergunta do texto: Sim. Veja, o ato de sonhar, que nada mais é do que processar o que já foi vivido; O ato de esquecer que já provou uma sobremesa e na primeira colherada viver a experiência semelhante à primeira vez esquecida; O ato de ver alguém parecido com outra pessoa e ter frio na barriga. Tudo isso é, simultaneamente, viver e reviver.
A tempestade de coisas-que-já-foram parece não ter sido anunciada no noticiário, mas ela vem para todos e é um fenômeno recorrente.
Ninguém nos avisa que viver é reviver também.
É realmente melhor se arrepender daquilo que se fez do que o quê não se fez?² Nossa lógica até aqui, diz que as coisas que não vivemos tem pouca importância. ²Mas seguindo este fio, é factível dizer que nossos "eu"s do passado, ao se depararem com cenários semelhantes, potencializam o livre arbítrio do seu de hoje?

Peguemos um exemplo: Um dinossauro do tipo ³Microraptor fez o mesmo caminho todos os dias, mas um dia optou seguir uma rota diferente e encontrou um atalho. No segundo dia tomando rumo distinto dos demais, ele convida um colega. Uma chuva fina cai sobre o caminho, tornando levemente mais perigoso. Então, o segundo dinossauro repreende o primeiro ao chegar na caverna, porque se arriscaram demais por alguns metros a menos.
O dinossauro pioneiro decide continuar indo pelo caminho curto, até que um dia, no meio do trajeto, a chuva vem, mas muito mais forte. E ele não chega a caverna.
Pode parecer, caro leitor, que o personagem principal é o primeiro dinossauro. Mas não, ele é igualmente importante ao segundo. Muitas vezes, persistimos na escolha ⁴ou mudamos o trajeto abruptamente sem informação sobre o novo caminho. As vezes, nos pegamos olhando por cima do muro o outro fazendo o que estamos tentados a fazer, e observando o seu resultado, tomamos o risco de criar nosso próprio percurso ⁴ou repetir aquilo que conhecemos.
O fato é que durante a vida temos diversos "⁴ou"s e somos os dois dinossauros. Somos o pioneiro, tomador de risco e somos o prudente que se vê na decisão do outro. Somos a interseção do passado e do presente: formados pelo o que fizemos, o que aprendemos e o que escolhemos ser.
³microraptor: Microraptor foi um gênero de dinossauro dromaeossaurídeo emplumado com quatro asas que viveu na primeira metade do período Cretáceo. Media em torno de 30 centímetros de altura, 50 a 70 centímetros de comprimento e pesava de 1 a 4 quilogramas, sendo um dos menores dinossauros que já viveram na Terra.
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